Pellizza começou a trabalhar num esboço de Embaixadores da fome em 1891, depois de ter assistido a uma manifestação de protesto de um grupo de operários. O artista ficou muito impressionado com a cena, tanto que anotou no seu diário:
A questão social impõe-se; muitos estão dedicados a ela e estudam esforçadamente para resolvê-la. Também a arte não deve ser estranha a este movimento em direção a um objetivo que ainda é desconhecido, mas que se sente que deve ser muito melhor do que as condições atuais.
Embaixadores da fome constitui a primeira etapa do percurso que conduzirá à elaboração final de O Quarto Estado.
O esboço foi concluído em abril de 1891. O assunto é uma revolta de trabalhadores na praça Malaspina em Volpedo, com três indivíduos à testa de um grupo em protesto: a cena é vista de cima e as figuras estão distribuídas em linhas ortogonais. Apesar do caracter "embrionário" da obra, como haveria mais tarde de afirmar o próprio artista, Embaixadores da fome já se define como pedra angular para o desenvolvimento posterior da obra, apresentando já a peculiaridade do trio da frente e da massa popular em fundo, e o destaque de sombra em primeiro plano.
Houve várias outras obras intermédias entre o primeiro rascunho de Embaixadores da fome e Torrente. Ainda de 1891 é Piazza Malaspina em Volpedo, representação da topografia de Volpedo feita «dal vero», preparatório para o fundo das versões posteriores;[10] e, de facto, houve duas outras versões de Embaixadores da fome, uma de 1892 e outra de 1895. O esquisso de 1892 é muito semelhante às anteriores, sendo adicionado, no entanto, um grupo de mulheres, figuras antitéticas em comparação com os homens trabalhadores, que desta forma tanto são motivados como acalmados pela presença feminina.
A última etapa do percurso até Torrente (Fiumana) é a versão dos Embaixadores de 1895, realizada após três anos de paragem em papel pardo, na forma de desenho a giz e carvão vegetal. Pellizza escreveu:
Os embaixadores são dois e avançam sérios na praça para o palácio do senhor que projeta a sombra a seus pés [...] avança a fome com as suas múltiplas atitudes - são homens, mulheres, idosos, crianças: todos os que têm fome vêm reclamar o que é de direito - serenos e calmos, apesar de tudo, como que a exigir nem mais nem menos do que aquilo que merecem - eles sofreram tanto, é chegada a hora da redenção, assim pensam eles e não o querem obter pela força, mas com razão - alguém poderá levantar o punho em ameaça, mas a multidão não o acompanha, esta confia nos seus embaixadores - homens inteligentes [...] uma mulher que corre mostrando a criança magra, uma outra, um terceira, está o chão e tenta em vão alimentar o bebê exausto com os seios estéreis - outra grita maldições.
Na passagem anterior, o artista enfatiza a sua vontade de realizar um quadro generalistaː para ser representativo não apenas dos camponeses de Volpedo, mas de toda uma parte da sociedade que "sofreu tanto" e que tem a intenção de reivindicar os seus direitos através de uma luta "serena, calma e fundamentada".